quarta-feira, 2 de setembro de 2009

EMANCIPAÇÃO DA ALMA

Partindo dessas definições falaremos hoje da ‘emancipação da alma’ e temos como base O Livro dos Espíritos, e o livro Sonhos de Djalma Argolo.

A questão 402 do Livro dos Espíritos argui como avaliar a liberdade do espírito durante o sono.

Essa interrogação deixa claro que ao dormirmos nos tornamos mais independentes, ou seja, nos emancipamos do corpo para vivermos, por assim dizer, novas aventuras. Novas aventuras, no sentido de podermos encontrar com outros espíritos encarnados e desencarnados para trocar idéias, realizar trabalhos ou mesmo visualizar acontecimentos de encarnações passadas, atual ou futura. Essas ações, algumas vezes, são realizadas e visualizadas para o encarnado em forma de sonho e, na maioria das vezes, a pessoa não se lembra do que Aconteceu.

A emancipação para o espírito encarnado, segundo Kardec, é uma morte momentânea onde ele tem a oportunidade de se instruir, inclusive com os espíritos superiores e onde alguns espíritos encarnados mais avançados também aprendem a não temerem a morte. Esses encontros noturnos entre espíritos encarnados geram amizades sinceras, uma vez que eles se relacionam enquanto seus corpos descansam, então, quando se encontram em estado de vigília, sentem afinidades um pelo outro, da mesma forma que não conseguem se entender de maneira inexplicável por causa dos desentendimentos ocorridos enquanto se encontram emancipados durante o sono.

O espírito não descansa nunca. Enquanto o corpo relaxa, ele viaja, estuda, se relaciona com o mundo dos espíritos e aprende, porque essa é uma forma que Deus deu para que nós, os encarnados tenhamos oportunidades de nos renovar para o bem e para percebermos que podemos aprender com nossos erros passados visualizados através dos sonhos, bem como para entendermos certas coisas que acontecem em nossas vidas. É claro que nem tudo que se visualiza é lição, muitas vezes, o espírito precisa relaxar e vai se encontrar com seus afins apenas para se divertir mesmo.

Há que se pensar, porém, é que Deus não faz nada por acaso é por isso que nos possibilitou uma forma de saber o que aconteceu enquanto nos emancipamos do corpo “o sonho”, é a única forma que nós, espíritos encarnados, temos de nos recordar do que fizemos enquanto dormíamos, o sonho nos permite lembrar das nossas ações para que possamos refletir sobre o ocorrido, ao mesmo tempo em que essas ocorrências nos servem de alerta para acontecimentos futuros, seja conosco ou com pessoas que nos cercam. Outra façanha dos sonhos é nos transportar para rever acontecimentos do passado, seja ele, da encarnação presente ou de outras muito distante.
Carlos Bernardo Loureiro aponta no livro “a visão espírita dos sonhos” que a tese do sono como emancipação da alma já era propalada (divulgada) pelos seguidores de Pitágoras na Grécia Antiga onde eles afirmavam que a alma se libertava do corpo durante o sono para interagir com espíritos superiores enquanto isso, Artemidoro de Efeso buscava informações sobre a índole moral da pessoa que sonhava, para a partir daí, interpretar esse sonho. Cremos nós que essa forma de interpretar venha se coadunar (reunir) às idéias de Kardec de que os iguais se atraem.
A questão 404 do Livro dos Espíritos interroga sobre a significação dos sonhos e o espírito informa que eles não tem significado atribuído por alguns adivinhos, mas, apresentam imagens reais ao espírito, mesmo não tendo, muitas vezes, relação com o que acontece quando o sonhador se encontra acordado. O sonhador pode estar tendo um pressentimento do futuro, pode estar apenas vendo algo que esteja se passando no lugar onde ele esteja visitando, isso porque ele não fica parado enquanto o corpo dorme.

O espírito, no momento da emancipação, precisa se movimentar para não perder o contato com os seus afins que se encontram distantes ou desencarnados. Em suas horas de emancipação o espírito pode percorrer países diferentes para encontrar seus afins e quando acordar, dificilmente vai se lembrar de onde esteve e ou com quem esteve.

Djalma Argolo se referindo às discussões oníricas foi buscar suporte nas pesquisas de Jung, psicanalista suíço que se baseou nos sonhos e visões que teve para desenvolver seu trabalho psicanalítico, e ao mesmo tempo fortaleceu a leitura de emancipação da alma. Ele acabou comprovando por seus estudos científicos que a alma pode se libertar momentaneamente do corpo e produzir informações que contribuam com o desenvolvimento moral do encarnado. Ou seja, Jung com suas pesquisas, ratifica o que Kardec, no século XIX descobriu interrogando diretamente aos espíritos.

Argolo enfatiza que o sonho não é apenas um fator inerente a existência física do espírito, ela está intrinsecamente (próprio da alma) ligado à vida permanente do espírito em todas as suas existências, mesmo porque a reencarnação é uma lei natural e o espírito não perde sua individualidade, portanto, enquanto se encontra preso pelo laço da encarnação sempre que pode se liberta para encontrar com seus amigos, distantes ou desencarnados, e qual melhor momento? O sono, enquanto o corpo descansa o espírito realiza as suas viagens.

Jung define a alma em duas substâncias ou partes reais onde predominam o consciente e o inconsciente. A consciência é o órgão de orientação humana, ela constata a existência das coisas, produz as sensações e as percepções de forma geral. Dentro do consciente também o pensamento está ligado à percepção e logo em seguida vem o sentimento que valoriza o objeto da percepção de forma particular, levando o espírito encarnado ao prazer ou ao desgosto. O que Jung chamou de quarta faculdade da consciência é a intuição que está ligada a percepção para compreender o que lhe é superior, ou seja, o que não atinge o campo visual do encarnado e que não pode ser notado pelas outras funções.

Para Jung a consciência é produzida pela percepção. Posto que o ser humano nasce inconsciente e vai se estruturando à medida que vai se desenvolvendo. Até certo ponto eu concordo com Jung por que a consciência é produto de trabalho é só pode haver consciência a cerca de alguma coisa ou ação a partir do conhecimento das causas e das conseqüências, porém, não podemos acreditar que um espírito reencarne zerado de conhecimento porque não se justificaria as interações dos espíritos no momento da emancipação, com espíritos de outras dimensões ou localidades onde eles nunca estiveram enquanto encarnados.

Ainda segundo a teoria de Jung, o inconsciente é o lugar onde se encontram armazenadas as lembranças perdidas e os conteúdos ainda poucos enraizados no consciente. Nessa ordem se encontram os arquétipos (modelos representativos de coisas ou eventos ex: arquétipo de bruxa, mulher feia, nariguda, corcunda, magra usa chapéu vassoura e roupas negras.) que se encontram presentes em todo o mundo, em todas as línguas e que é conhecido como o inconsciente coletivo. Coletivo porque é reconhecido em todas as partes do mundo por todas as pessoas. Nesses aspectos penso eu, que sonhar está intimamente ligado ao arquétipo liberdade, viagem do espírito encarnado.
A questão 405 do livro dos espíritos se refere aqueles sonhos que parecem pressentimento, mas não se realizam, os espíritos esclarecem que a alma mesmo afastada, continua ligada a matéria por sua influência terrena, por isso pode muito bem ver o que deseja durante o descanso do corpo, isso depende do seu grau de preocupação com a problemática vivida em estado de vigília. Sobre a interpretação dos sonhos Argolo conta que na antiguidade os deuses utilizavam os sonhos para realizar curas, inclusive no Egito e na Grécia havia templos para os enfermos dormirem até sonhar e conseguir a cura através do encontro com os espíritos dos seus ancestrais.

Na antiguidade a mediunidade era exercida no sonho, os sonhadores tinham visões do que iria acontecer e os sonhos posteriormente se confirmavam, assim eles viam os sonhos como mensagens que lhes ajudariam mais tarde, inclusive nas batalhas das guerras, como acontecia com Joana D’arc na guerra dos cem anos.

Foi por causa de um sonho que Constantino, o imperador romano estabeleceu através do Edito de Milão no ano de 312 d.C. a tolerância religiosa. Depois de sonhar com Jesus numa cruz com o seguinte dizer: “com este sinal vencerás”, ele então se converteu ao cristianismo utilizou a cruz nas vestimentas dos seus soldados e venceu a batalha da ponte Milvia, como reconhecimento ao aviso que teve durante o sono, estabeleceu a lei de tolerância religiosa.

O que se pode pensar então do sonho? Uma coisa é certa, o sonho é a porta da comunicação entre o espírito encarnado e o mundo dos espíritos, ou como diz Djalma Argolo, “é o resultado das vivências do espírito desligado do corpo durante o sono e da associação de conteúdos inconscientes aglutinado pelo afeto despertado em algum episódio.”. Isso porque o cotidiano influencia tanto o encarnado que ele no momento em que se liberta parcialmente vai à maioria das vezes ao encontro dos seus semelhantes.

A questão 407 do livro dos espíritos expressa dúvida sobre o momento da encarnação e interroga se é preciso adormecer completamente para se afastar do corpo físico. Os espíritos então responderam que sempre que os sentidos de uma pessoa se entorpecem o espírito pode dar uma escapada, posto que a condição para o espírito se afastar do corpo é ele se encontrar débil.

Assim o espírito utiliza vários estágios para se emancipar, e à medida que esses estágios vão ficando mais altos, o espírito vai ganhando espaço e se deslocando mais, nos desdobramentos, por exemplo, o encarnado pode se relacionar com outros espíritos em casa ou em lugares distantes. O espírito não dorme nunca, ao contrário, ele aproveita o relaxamento do corpo para praticar ações que durante a vigília não pode realizar.

Se alguém me perguntasse por que se sonha, eu certamente não saberia responder, mas, estudiosos como Jung tem várias explicações, ele afirmou que os sonhos se realizam por diversos motivos, inclusive, por estímulos fisiológicos e esse tipo de sonho acontece devido a necessidade orgânica do sonhador, por exemplo, o sonhador ( o espírito) se encontra em uma festa se divertindo, mas o corpo sente necessidade fisiológica de fazer xixi então o espírito recebe a informação e a transforma em sonho, assim, tem a necessidade de sair a procura de um banheiro, ao perceber que está dormindo tem o impulso de acordar para não molhar a cama. O que se nota nessa situação é que a necessidade fisiológica do corpo adormecido provoca a sensação no espírito que se encontra fora e este retorna para evitar o “desastre”.

Quando a situação do sonho é o desdobramento o espírito se desliga do corpo e entra em contato com o mundo dos espíritos, sem perder o seu estado de consciência, mas sabe perfeitamente que está interagindo com outros espíritos encarnados ou não, e quando acorda se lembra nitidamente de onde estava e com quem esteve. Já nos sonhos premonitórios como demonstra Argolo, o sonhador se comunica com o que vai acontecer no futuro. É claro que nem sempre se tem um sonho com a mesma clareza que acontece no desdobramento, mas, se o sonhador souber fazer uma leitura mais apurada, perceberá que as simbologias apresentadas nos sonhos podem se tornar realidade.

Os sonhos premonitórios visualizam problemas que podem acontecer com outras pessoas e não possuem uma objetividade, eles se apresentam quase sempre em linguagem simbólica e quando o sonhador acorda tem apenas a intuição de algo de bom ou ruim vai acontecer, mas não sabe precisar o que ou com quem. Ainda na categoria dos sonhos diversificados vamos encontrar os mediúnicos. Os sonhos mediúnicos são aqueles que têm a interferência direta dos espíritos desencarnados. É um sonho que possui características bem próprias.

Carl Gustav Jung relata um sonho mediúnico que teve com sua falecida esposa Emma Jung, ela apareceu para ele em sonho, como se fosse uma visão, aparentava mais jovem, vestia um lindo vestido que ganhara de presente de sua prima, mas que jamais usou em vida. Tinha olhar sereno e não mostrava apego ao mundo dos vivos, permaneceu paralisada à frente dele e não proferiu nenhuma palavra. Mas fez com que Jung percebesse nela, toda sua história de vida à dois e os seus últimos dias de vida com ele. Ela se mostrou para ele não como um espírito desencarnado do qual ele se lembraria casualmente, mas se fez ver como pessoa real para que ele tivesse a certeza de que estava diante de uma pessoa desencarnada e não um produto do seu inconsciente provocado pelos seus problemas diários.

Essa forma de apresentação acontece entre médiuns e espíritos para que não reste dúvidas sobre o fenômeno da espiritualidade. O próprio Jung, a partir de suas experiências pessoais passou a observar e abordar fenômenos mediúnicos em seus estudos nos moldes da teoria estabelecida por Kardec, dando atenção aos efeitos inteligentes que se processam através do psiquismo ou fluído universal que anima os seres vivos. E é por causa do fluído universal ou inteligência, que as lembranças permanecem com os espíritos por muitas vidas, podendo ser visitadas durante o sono, ou melhor, dizendo relembradas e denominadas de sonhos de existências passadas.

No sonho de existências passadas o sonhador revive fatos acontecidos em encarnações anteriores. Mas isso não significa que ele tenha sempre, uma visão esclarecida sobre o que viu no sonho. Algumas vezes as imagens aparecem de forma confusa, outras vezes não deixam dúvidas quanto a veracidade do fato revisitado, outras vezes mostram episódios relacionados a problemas da existência atual do sonhador, e essa não deixa de ser uma forma de ensinar ao sonhador que o que ele está fazendo é uma viagem às suas origens e que ele pode utilizar como exemplo para melhorar seu posicionamento ou suas atitudes referentes ao produto do seu sonho ligado ao seu problema atual.

Djalma Argolo ao discorrer sobre o assunto ratifica que o espírito uma vez liberto pela emancipação momentânea da alma, vai procurar solução para os seus problemas existenciais, podendo recorrer a vários tipos de ajuda e uma das primeiras opções é desenvolver tarefas que possam ajudar a outros espíritos necessitados e acumular bônus para o seu próprio crescimento interior. Até porque o espírito trabalha todas as horas do dia e quando o corpo descansa, as chances dele desenvolver trabalhos mais bem elaborados e de avançar na escala espírita são bem maiores. Dependendo do grau de entendimento em que se encontre, no momento em que seu corpo descansa, o encarnado pode se juntar a outros no mundo espiritual ou amigos encarnados para colaborar com o desenvolvimento intelectual de espíritos menos instruídos, ajudar espíritos perdidos a se encontrarem ou mesmo cuidar de doentes.

Esse tipo de viagem espiritual é também chamada de sonhos terapêuticos, e eles não estão apenas nos livros, eles se realizam no dia a dia das pessoas mais simples e que às vezes nem têm consciência de sua mediunidade ou que por várias razões não sabem fazer a leitura mediúnica.

Não podemos nos esquecer que o espírito ao se afastar momentaneamente do corpo não realiza apenas ações boas, ele pratica e recebem influencias ruins, podem ser obsidiados, fazer mal a pessoas que não gostem, é só encontrarem um espírito na mesma sintonia dele para ajudá-lo na maldade, assim como aproveitam para realizarem coisas que acordados não fazem por questões de ética social. Porém ao se encontrarem com espíritos do bem só realizam boas ações, outro fator muito positivo e que acontece durante a emancipação da alma é o tratamento durante o sono. Os espíritos amigos ao perceberem que o sonhador está precisando de socorro podem submetê-los a diversos tipos de tratamentos como, por exemplo, submeter o obsidiado a confronto direto com seu obsessor para forçá-los a um perdão das ofensas e início de uma nova vida.

Outras vezes fazem terapias de regressão de vidas passadas durante o sono para que o sonhador possa se recuperar física e mentalmente do mal que o atinge. É a partir desses tratamentos que o encarnado vai tomando consciência de suas atitudes e conquistando novas amizades no mundo espiritual, amizades estas que lhe facilitam a aceitação das coisas que antes ele se negava a acreditar ou a realizar.

Para finalizar, a emancipação da alma é a forma de manter o contato do encarnado com o mundo dos espíritos e ao mesmo tempo do encarnado aprender a entender utilizar suas visões para o seu próprio crescimento. Allan Kardec assim definiu os sonhos:

“os sonhos são o produto da emancipação da alma que se torna mais independente pela suspensão da vida ativa e de convivência […] a lembrança que traz à memória acontecimentos realizados na existência atual ou em existências anteriores”.

Fiquemos todos com Deus e uma boa noite.

REFERÊNCIAS:
ARGOLO, Djalma. Sonhos: interpretação dos sonhos à luz da psicologia e do espiritismo. Contagem, MG: Casa dos espíritos Editora, 2005.

LOUREIRO, Carlos Bernardo. A visão espírita do sono e dos sonhos.
Casa Editora: O Clarim, Matão, SP- Brasil.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos-
São Paulo: Petit, 1999.

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