terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A CONDUÇÃO DO QUERER

Até que ponto nossos valores e desejos são realmente nossos? Até que ponto é nossa própria consciência e sensibilidade que criam nossos planos e desejos, valores e razões para a existência? Somos bombardeados com valores impostos, pelo consciente, pelo inconsciente, pelo emocional, pelo ego, pelo sexo, pela vaidade, pelo instinto de disputa (resquício do animalismo ancestral) ou pela insegurança social (planejada e implantada na sociedade pelo controle do Estado e, sobretudo, através da publicidade e da mídia, que formam, enganam e narcotizam a opinião pública para dar à barbárie um aspecto de inevitável).

Foram desenvolvidas formas de criação, controle e condução do comportamento, da opinião e dos valores. Por acaso somos imunes ao assédio de televisão, rádio, out-doors, folhetos, jornais, revistas, veículos e todos os lugares e meios usados para criar desejos e influenciar o comportamento e a mentalidade humana?

Que cada um analise seus próprios valores, objetivos e opiniões sobre a realidade, procurando os fundamentos, as fontes, as razões e as motivações dos próprios desejos e encontrará aí induções e influências, evidentes ou sutis.

A sociedade é conseqüência do que somos, individualmente, dando forma ao coletivo. Não é possível se orgulhar de uma sociedade que ostenta tanta barbárie, miséria e ignorância; ilhas de fartura e ostentação, privilégios e desperdícios para poucos, em meio a um mar de pobreza, de lutas insanas e vidas difíceis. Uma grosseria, uma vergonha, uma insensibilidade, uma desumanidade. A maioria vive entre a ansiedade, a angústia e a miséria; entre a hipnose, a ignorância e as violências cotidianas.

É preciso questionar a sociedade, sua estrutura injusta, covarde, hipócrita e suicida, mas a partir de cada um de nós, dos nossos próprios condicionamentos. É preciso se questionar a si mesmo, para perceber como reproduzimos os comportamentos sociais induzidos, individualmente, nas nossas relações pessoais, em nossos valores, desejos e objetivos de vida. E o quanto perdemos com isso, no turbilhão de sentimentos em conflito, na adaptação da consciência, na qualidade da existência e nas relações com o mundo.

Eduardo Marinho

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