quinta-feira, 7 de julho de 2011

UM ESTUDO SOBRE A ARROGÂNCIA

“Assim não deve ser entre vós, ao contrário, aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo; - e, aquele que quiser ser o primeiro entre vós seja vosso escravo.” (S. Mateus, capítulo XX, vv. 20 a 28.)
O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo VII – ítem 4

Arrogância, eis um tema de extrema importância para ser meditado em nossos núcleos de amor cristão.

Tenho arrogância? Como descobri-la? O que é arrogância? Um sentimento ou uma atitude? Qual a sua origem? Como se manifesta? Como se manifesta? Como perceber a atitude arrogante? Que fazer para superar essa doença moral? Como espíritas somos arrogantes? Como? Por que existe ainda a arrogância em nossa conduta, apesar do conhecimento doutrinário?

Os Sábios Guias da Verdade oportunamente responderam ao senhor Allan Kardec: “De todas as imperfeições humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde libertar-se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua organização social, sua educação”.

O estudo do sentimento de egoísmo constitui elemento fundamental no entendimento de nossas necessidades espirituais. Significa estudar nossa própria história evolutiva. A sutil diferença entre pensar excessivamente em si e pensar em si com benevolência pode determinar a natureza de todos os sentimentos humanos. O excesso de interesse por si mesmo é um ciclo de ilusões que se repete sustentando o auto-desamor em milênios de perturbação. A benevolência é a bondade efetiva que caminha de braços dados com a edificação da paz interior.

O codificador ponderou: “Não; a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal.” (O Livro dos Espíritos – questão 907- comentário de Allan Kardec).

Na fieira do tempo o egoísmo sofreu mutações infinitas que compõem a versatilidade de toda a estrutura sentimental do Ser. O abuso desses “germens de luz” tem constituído entrave ao longo dos tempos. A paixão – ausência de domínio sob gerência da vontade – ensejou reflexos perniciosos, cujas raízes encontram-se no egocentrismo – o estado mental de fechamento das nossas próprias criações.

Nessas linhas de evolução, o instinto de conservação desenvolveu a posse como sinônimo de proteção, vindo a constituir o núcleo da tormenta humana como asseveram acima os Sábios Orientadores da Verdade: “(...) o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da matéria (...).”

Alicerçados na necessidade apaixonada de proteção material, enlouquecemos através da posse e a conduta arrogante ensejou-nos a concretização dessa atitude de egoísmo.

O princípio que gera a arrogância foi colocado no homem para o bem. É a ânsia de crescer e realizar-se. O impulso para progredir. O instinto de conservação que prevê a proteção, a defesa. Tais princípios são os fatores de motivação para a coragem, a ousadia, o encanto com os desafios. Graças a eles surgem os líderes, o idealismo e as grandes realizações inspiradas em visões ampliadas do futuro. O excesso de tudo isso, no entanto, criou a paixão. A paixão gerou o vício. O vício patrocinou o desequilíbrio.

Comparemos o egoísmo como sendo o vírus e a arrogância a doença, seus efeitos nocivos e destruidores.

Arrogância, “qualidade ou caráter de quem, por suposta superioridade moral, social, intelectual ou de comportamento, assume atitude prepotente ou de desprezo com relação aos outros; orgulho ostensivo, altivez”. Esse o conceito dos dicionários humanos. (Dicionário Houaiss).

No sentido espiritual podemos inferir vários conceitos para o sentimento de arrogar. Vejamos alguns: exacerbada estima a si mesmo. Supervalorização de si. Autoconceito super dimensionado. Desejo compulsivo de se impor aos demais.

O egoísmo é o sentimento básico. Arrogância é a atitude íntima derivada desse alicerce de sensações nascidas no coração ocupado, exclusivamente, com seu ego. Uma compulsiva necessidade de ser o primeiro, o melhor, manifestada através de um cortejo de pensamentos, emoções, sensações e condutas que determinam o raio espiritual no qual a criatura transita.

Asseveram os Sábios Guias: ”(...) a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade,, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal”.

Façamos um pequeno gráfico *. Escreva a palavra arrogância e a circule. Agora faça quatro traços nos pontos cardeais e escreva: rigidez, competição, imprudência, prepotência.Novamente faça um círculo em torno desses pontos e escreva: estado orgulhoso de ser. Feche um novo círculo.

Essas são as quatro ações mais perceptíveis em decorrência do ato de arrogar que estruturam expressiva maioria dos estados psicológicos e emocionais do Ser. A partir desse estado orgulhoso de ser, podemos perceber um quadro mental de rígida auto-suficiência, do qual nascem as ilusões e os equívocos da caminhada humana, arrojando-nos aos despenhadeiros da insanidade aceitável e da rivalidade envernizada.

O traço predominante na personalidade arrogante é a não conformidade. Usada com equilíbrio, é fonte de crescimento e progresso. Todavia, sob ação dos reflexos da posse e do interesse pessoal, que marcaram, acentuadamente, nossas reencarnações, esse traço atingiu o patamar de rebeldia e obstinação enfermiça.

A rebeldia tornou-se um condicionamento psicológico que dilata as ações da arrogância. Uma lente de aumento que decuplica e acelera as mutações da auto-suficiência.

Estudemos, portanto, as atitudes pilares da arrogância sob as lentes da rebeldia.

A rigidez é a raiz das condutas autoritárias e da teimosia que, freqüentemente, deságuam nos comportamentos de intolerância. Sob ação da rebeldia, patrocina o desrespeito ao Livre-arbítrio alheio e alimentam constantemente o melindre por a vida não ser como ele gostaria que fosse.

A competição não existe sem a comparação e o impulso de disputa. Quando tomado pela paixão, a força motriz de semelhante ação é o sentimento de inveja. Na mira da rebeldia, causa o menosprezo e a indiferença que tenta empanar o brilho de outrem., A competição é o alimento do sentimento de superioridade.

A imprudência é marcada pela ousadia transgressora que não teme e nem respeita os limites. Quase sempre, essa inquietude da alma alcança o perfeccionismo e a ansiedade que, freqüentemente, deságuam na necessidade de controle e domínio. Consubstanciam modos rebeldes de ser. Desejo de hegemonia. Sentimento de poder.

A prepotência é um efeito natural da perspicácia que pode insuflar a megalomania, a presunção. Juntos formam o piso da vaidade. A rebeldia, nesse passo, conduz a uma desmedida necessidade de fixar-se em certezas que adornam posturas de infalibilidade.

Conforme o temperamento e a história espiritual particular, a arrogância manifesta-se com maior ou menor ênfase em uma das quatro ações descritas, criando efeitos variados no comportamento. Apesar disso, a cadeia de reflexos íntimos é muito similar.

Egoísmo que na sua mutação transforma-se em arrogância; essa, por sua vez, deriva um cortejo de outros sentimentos sob ação do orgulho e da rebeldia.

A arrogância retira-nos o “senso de realidade”. Acreditamos mais naquilo que pensamos sobre o mundo e as pessoas do que naquilo que são realmente. Por essa razão, esse processo da vida mental consolida-se como piso de inumeráveis psicopatologias da classificação humana. A alteração da percepção do pensamento é o fator gerador dos mais severos transtornos psiquiátricos. São as manifestações enfermiças do eu na direção do narcisismo. Na rigidez, eu controlo. Na competição, eu sou maior. Na imprudência, eu quero. Na prepotência, eu posso. A arrogância pensa a vida e ao pensá-la, afasta-nos dos nossos sentimentos.

Essa desconexão com a realidade estabelece a presença contínua das fantasias no funcionamento mental, isto é, a “interpretação ou imagem desvirtuada” que a pessoa alimenta acerca de fatos, pessoas e coisas. Nesse passo existem dois tipos psicológicos mais comuns. A arrogância voltada para o passado, quando há uma fixação em mágoas decorrentes da inaceitação de ocorrências que na sua excessiva auto-valorização, o arrogante acredita não merecê-las. O outro tipo é a arrogância dirigida ao futuro, quando a criatura vive de ideais, no mundo das idéias, acreditando-se mais capaz e valorosa que realmente o é. Passível de realizar grandes e importantes missões, tais “deslocamentos da mente” são formas de evadir de algo difícil de aceitar no presente. De alguma maneira, constituem mecanismos protetores, todavia, quando se prolongam demasiadamente, podem gerar enfermidades psíquicas. A depressão é resultado da arrogância voltada ao passado. E a psicose em relação ao futuro.

Interessante observar que uma das propriedades psicológicas doentias mais presentes na estrutura rebelde da arrogância é a incapacidade para percebê-la. O efeito mais habitual de sua ação na mente humana.

Basta destacar que dificilmente aceitamos ser adjetivados de arrogantes. Entretanto, um estudo minucioso nos levará a concluir que, raríssimas vezes na Terra, encontraremos condutas livres dessa velha patologia moral.

Relacionemos outros efeitos dessa doença:

01. Perda do autodomínio.
02. Apego a convicções pessoais.
03. Gosto por julgar e rotular a conduta alheia.
04. Necessidade de exercício do poder.
05. Rejeição a críticas ou questionamentos.
06. Negação de sentimentos.
07. Ter resposta para tudo.
08. Desprezo aos esforços alheios.
09. Imponência nas expressões corporais.
10. Personalismo.
11. Auto-suficiência nas decisões.
12. Bloqueio na habilidade na empatia.
13. Incapacita para a alteridade.
14. Turva o afeto.
15. Acredita que pode mais do que realmente é capaz.
16. Buscar mais do que necessita.
17. Querer ir além de seus limites.
18. Exigir mais do que consegue.
19. Sentir que somos especiais pelo bem que fazemos.
20. Supor que temos a capacidade de dizer o que é certo e errado para os outros.
21. Sentir-se com direitos e qualidades em função do tempo de doutrina e da folha de serviços.
22. Acreditar que temos a melhor percepção sobre as responsabilidades que nos são entregues em nome do Cristo.
23. Julgar-se apto a conhecer o que se passa no íntimo de nosso próximo.
24. Desprezar o valor alheio.

A ausência de consciência sobre esse sentimento e suas manifestações de rebeldia tem sido responsável por inúmeros acidentes da vida interpessoal. Mesmo entre os seguidores das orientações do Evangelho, solapam as mais caras afeições, levando muita vez a tomar os amigos como autênticos adversários como destaca a questão 917 de O Livro dos Espíritos:

Quando compreender bem que no egoísmo reside uma dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que a cada momento o magoam, a que perturba todas as relações sociais, provoca as dissensões, aniquila a confiança, a que obriga a se manter constantemente na defensiva contra o seu vizinho, enfim a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua felicidade e, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança”.

Ter autoconsciência é uma das habilidades da inteligência emocional. Saber dar nome aos nossos sentimentos é fundamental no processo de crescimento e reforma interior. A arrogância que costumamos rejeitar como característica de nossa personalidade é responsável por uma dinâmica metamorfose dos sentimentos.

A ignorância de seus efeitos em nossa vida é explorada pelos gênios astutos da perversidade no planeta.

Necessário registrar que os apontamentos sobre a arrogância aqui transcritos foram embasados no livro “Porta Larga, o Caminho da Perdição Humana”. Um exemplar utilizado nas escolas da maldade em núcleos organizados da erraticidade, arquivado na biblioteca do Hospital Esperança quando seu próprio autor foi resgatado e socorrido por Eurípedes Barsanulfo há algumas décadas. Hoje reencarnado no seio do Espiritismo, esse escritor das penas vãs busca sua redenção na luta contra sua própria arrogância. O gráfico que sugerimos, também da autoria de nosso irmão, é usado em inúmeras plataformas de estudos com finalidades hegemônicas em clãs a perversidade.

O livro, que ainda permanece arquivado em nosso centro de estudos, é um exemplar de inteligência psicológica cujo propósito é combater a mensagem evangélica do Cristo embasada na humildade. Segundo o autor, a arrogância é a porta larga para implantação do caos no orbe terreno.

“Assim não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo; - e, aquele que quiser ser o primeiro entre vós seja vosso escravo”.

Por que essa compulsão por ser o maior em uma obra que não nos pertence?
Se a obra é do Cristo, por que a ante-fraternidade?

Considerando tais reflexões acerca dessa doença dos costumes, teçamos algumas ponderações que nos motivem a algumas auto-aferições à luz da claridade espírita.

Arrogância – Intolerância, inveja, poder, vaidade.

Intolerância – autoritarismo e teimosia.

Inveja – impulso de disputa e comparação.

Poder – perfeccionismo e ansiedade.

Vaidade – Megalomania e presunção.

“Não procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Buscai, ao contrário, o lugar mais humilde e mais modesto, porquanto Deus saberá dar-vos um mais elevado no Céu, se o merecerdes.”
O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo VII – ítem 6

“E chegou a Cafarnaum e, entrando em casa, perguntou-lhes: Que estáveis vós discutindo pelo caminho? Mas eles calaram-se; porque pelo caminho tinham disputado entre si qual era o maior.” (Marcos 9:33 e 34)

Esse cenário da época do Cristo ainda se repete entre nós até hoje. De forma velada, sutil, sob indução do reflexo da arrogância e suas conseqüentes máscaras, ainda disputamos a maior idade em relação a quem partilha conosco o trabalho do bem.

O reflexo mais saliente do ato de arrogar é a disputa pela apropriação da Verdade. Nossa necessidade compulsiva de estarmos sempre com a razão demonstra a ação egoísta pela posse da Verdade, isto é, daquilo que chancelamos como sendo a Verdade.

De posse dessa sensação orgulhosa de possuir o “certo” em nosso ponto de vista, há milênios adotamos condutas que nos causam a agradável

(Nota do médium: gráfico proposto pela autora espiritual).

“Não procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Buscai, ao contrário, o lugar mais humilde e mais modesto, porquanto Deus saberá dar-vos um mais elevado no Céu, se o merecerdes.”
O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo VII – ítem 6

“E chegou a Cafarnaum e, entrando em casa, perguntou-lhes: Que estáveis vós discutindo pelo caminho? Mas eles calaram-se; porque pelo caminho tinham disputado entre si qual era o maior.” (Marcos 9:33 e 34)

Esse cenário da época do Cristo ainda se repete entre nós até hoje. De forma velada, sutil, sob indução do reflexo da arrogância e suas conseqüentes máscaras, ainda disputamos a maior idade em relação a quem partilha conosco o trabalho do bem.

O reflexo mais saliente do ato de arrogar é a disputa pela apropriação da Verdade. Nossa necessidade compulsiva de estarmos sempre com a razão demonstra a ação egoísta pela posse da Verdade, isto é, daquilo que chancelamos como sendo a Verdade.

De posse dessa sensação orgulhosa de possuir o “certo” em nosso ponto de vista, há milênios adotamos condutas que nos causam a agradável ilusão de possuirmos autoridade suficiente para julgar com precisão a vida alheia.

É com base nesse estado orgulhoso de ser que sustentamos o velho processo psíquico de autofascinação com o qual nutrimos exacerbada convicção nas opiniões pessoais, especialmente em se tratando das intenções e atitudes do próximo.

Na raiz desse mecanismo psicológico encontra-se a neurótica necessidade de sentirmos superiores uns em relação aos outros, a disputa.

O orgulho é o sentimento de superioridade pessoal e a arrogância é a expressão doentia desse traço moral.

Iluminados pela Doutrina Espírita, não desejamos mais o mal de outrem. Enobrecidos pelas boas intenções, já nos qualificamos para operar algo de útil em favor do bem alheio, contudo, os reflexos mentais do orgulho ainda não nos permitem vencer o sentimento de importância pessoal. Reconhecer pelo coração o valor alheio na Obra do Cristo ainda constitui um enorme desafio educativo para nossas almas.

A mais destruidora atitude na convivência humana é nossa arrogância de acreditar convictamente no julgamento que fazemos acerca de nosso próximo. Mesmo imbuídos de intenções solidárias, somos néscios em matéria de limites nas relações humanas. Quase sempre somos assaltados por velhos ímpetos arquivados na bagagem da vida afetiva que nos inclinam a atitudes de invasão e desrespeito para com o semelhante.

“Assim não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo;”

O que faz uma pessoa importante é a sua capacidade de servir, realizar. O impulso para ser útil, edificar, superar limites, alcançar novos patamares de conquistas. É o mesmo princípio originário da arrogância. Entretanto, invertendo a ordem, desenvolvemos a destrutiva acomodação em ser servido.

“Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.” (João, 13:14 e 15).

Jesus é o grande exemplo de servidor. Para Ele, lavar os pés dos discípulos não era diminuir, mas avançar. Ele naquele episódio, demonstra possuir consciência lúcida de Sua real condição íntima, portanto, não Se sentiu menor com o ato de servir.

Nossa grande dificuldade reside em desconhecer nosso real “tamanho evolutivo”. Não sabemos quem somos e partimos para adotar referências para fora de nós. Por isso não discutamos quem é o maior conosco e sim o próximo.

para que essa disputa seja ‘”legítima”, criamos o hábito de julgar através da apropriação da verdade. Diminuindo o outro, sentimo-nos maiores.

Humildade é saber quem se é. Nem mais, nem menos. É o estado da mente que se despe das comparações para fora e passa a comparar-se consigo própria, mensurando a realidade de si mesma.

Quem se compara com o outro cria a tormenta e não descobriu sua singularidade, seu valor pessoal. Não se ama e, por isso mesmo, necessita compulsivamente estabelecer disputas, incendiando-se de inveja e colecionando rótulos inspirados em irretorquíveis certezas pessoais.

Quando nos abrimos para legitimar a humildade em nossas vidas, adotamo-nos como somos, aceitamos nossas imperfeições. Aprendendo a gostar de nós, eliminamos a ansiedade de competir para denegrir ou excluir.

Quando nos amamos, a ânsia de progredir transforma-se em fornalha crepitante de entusiasmo, distanciando-nos da atitude patológica de prestígio ou reconhecimento. Somente no clima do auto-amor elencamos condições essenciais para analisar as tarefas doutrinárias como campo de oportunidade e aprendizado, crescimento e libertação. Sem auto-amor e respeito aos semelhantes, vamos repetir a velha cena do Evangelho para saber quem é o maior.

“Não procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Buscai, ao contrário, o lugar mais humilde e mais modesto, porquando Deus saberá dar-vos um mais elevado no Céu, se o merecerdes.”

Porque essa compulsão por ser o primeiro em uma obra que não nos pertence?

Na Obra de nosso Mestre há tarefas e lugares para todos. “(...) Deus saberá dar-vos um mais elevado no Céu, se o merecerdes.”

Tarefas maiores, à luz da mensagem do Cristo, não significam prerrogativas para adoção de privilégios ou garantia de autoridade. A expressividade da responsabilidade na Obra do Cristo obedece a dois fatores:

necessidade de remissão perante a consciência e merecimento adquirido pela preparação. Em ambas as situações predomina uma só receita para o aproveitamento da oportunidade: o esforço, sacrifício, renúncia e humildade.

Sobre os ombros daqueles que realçam e brilham no movimento doutrinário pesam severos compromissos interiores perante suas consciências.Compromissos que, certamente, não daríamos conta por agora. Portanto, repensemos nosso foco sobre quantos estejam assoberbados com tarefas de realce, analisando seus caminhos como espinhosa senda corretiva, repleta de desafios e inquietantes angústias da alma.

Quem se impressiona com o brilho de suas ações se surpreenderia ao conhecer a intensidade dos incômodos e cobranças íntimas que lhos absorvem a consciência ante a grandeza de suas realizações. Ninguém imagina a natureza das tormentas que experimentam os corações sinceros para aprenderem a lidar com o assédio das multidões, atribuindo-lhes virtudes ou qualidades que eles sabem ainda não possuírem. Quanta angústia verte entre o aplauso de fora e as lutas a vencer na sua intimidade.

Não existem pessoas mais ou menos valiosas no serviço de implantação do bem na Terra. Existem resultados mais abrangentes e expressivos que outros, no entanto, não conferem privilégios ou são sinônimos de sossego interior aos seus autores. Existem inúmeros trabalhadores da Doutrina que exercem excelente atuação com invejável rendimento e sentem-se de alma oprimida. Realizam a preço de sacrifícios hercúleos. Outros tantos, com menor expressividade na sua produtividade espiritual, alcançam níveis incomuns de alegria e bem-estar com a vida. Ainda existem aqueles que muito realizam e experimentam uma sensação de grandeza e importância pessoal.

A obra é importante. Nossa participação, por mais significativa, é como destaca Constantino, Espírito Protetor: “Bons espíritas, meus bem-amados,sois todos obreiros da última hora.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – capítulo XX – ítem 2.)

Uma das mais graves angústias dos espíritas internados no Hospital Esperança é revolta que nutrem contra si mesmos quando conscientizam não serem tão essenciais e importantes quanto supunham no plano físico. Vários se entorpeceram com os efeitos sutis e envernizados da arrogância, acreditando-se indispensáveis, missionários e credores de vantagens em razão das realizações espirituais. Acalentaram expectativas fantasiosas com o desencarne e tombaram na enfermidade do personalismo. Quase sempre, constituem pesado ônus na rotina do Hospital, pois, mesmo aqui, ainda continuam suas disputas inglórias e exigências descabidas com base em suas supostas credenciais de elevação moral, obrigando-nos, algumas vezes, a tomar medidas austeras para tratar-lhes a insolência viciada...

Por mais nobre que seja a tarefa a nós entregue na ceara, recordemos: os méritos devem ser transferidos para a causa do nosso Mestre. Lutamos todos pela causa do amor, a humanidade redimida.

Deveremos periodicamente nos perguntar: que tenho feito dos bens celestes a mim confiados? Cargos, mediunidade, recursos financeiros, influência pelo verbo, a arte de escrever, o talento de administrar, a força física, a saúde, a inteligência, enfim todos os bens com os quais podemos enriquecer nossa caminhada de espiritualização. Estarei os utilizando para o crescimento pessoal e de outros?

Consigo perceber minha melhora no uso desses recursos?

A diluição dos efeitos da arrogância em nós depende dessa atitude honesta em lidar com os sentimentos que orbitam na esfera desse reflexo cristalizado no campo mental.

Essa honestidade emocional inicia-se com as perguntas: Por que estou sentindo o que estou sentindo? Qual o nome desse sentimento? Qual a mensagem meu coração está me indicando? Estarei disputando com alguém nas atividades? O que penso sobre meu semelhante será realmente a verdade? Por qual razão alguém me causa o sentimento de inveja? Por que me sinto diminuído perante uma determinada criatura?

A outra faceta da arrogância é a baixa auto-estima. O desgaste das forças íntimas ao longo desse trajeto de ilusões na supervalorização de si trouxe como efeito o vazio existencial. Após o esbanjamento da Herança Sagrada, o Filho Pródigo da passagem evangélica assevera: “Pai, pequei contra o céu e perante ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros.” (Lucas 15:19)

O sentimento de indignidade é o reverso da arrogância. O complexo de inferioridade é a resultante dos desvios clamorosos nesta longa caminhada evolutiva.

Por essa razão aprender o auto-amor é fundamental.

“A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os carecteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação.” (Livro dos Espíritos – questão 917.)

Que nossos apontamentos sobre a arrogância sejam apenas o estímulo inicial para a continuidade dos estudos em torno do tema. A complexidade desse sentimento em nossas vidas merece uma investigação mais detalhada que fugiria à nossa tarefa desta hora.

FONTE:

ESCUTANDO SENTIMENTOS A ATITUDE DE AMAR-NOS COMO MERECEMOS - WANDERLEY S. DE OLIVEIRA- Pelo Espírito ERMANCE DUFAUX
.
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - ALLAN KARDEC
O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ALLAN KARDEC
PORTA LARGA, O CAMINHO DA PERDIÇÃO HUMANA
DICIONÁRIO HOUAISS

fonte do texto:comunidade Umbanda sem Medo
postado por Cigano,04/02/09

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